Portugal: Editora Cotovia, 2009
França: Tupi or Not Tupi Éditions, 2014
Traduzido para o francês por Élodie Dupau
Suíte Dama da Noite
Aos dez anos, Júlia Capovilla praticava vorazmente o amor fictício, cultivando um vasto elenco de amantes imaginários. Esperava-os penteada, vestida com toda combinação de peças de que podia dispor entre as próprias e as deixadas pela mãe. Os lábios, lambuzados de cor-de-rosa, cheiravam a framboesa, e no rosto, o incêndio da correria, do susto, da ousadia de sair de casa dizendo que ia ao armazém comprar rapadura, merengue ou figurinha, e tomar o rumo da estação.
Depois, perambulava com seus pares invisíveis por ruelas vazias e terrenos baldios, tomando cuidado pra que ninguém os notasse ― não achava graça em brincar de amores que não fossem clandestinos.
Em seu segundo romance, Suíte Dama da Noite, Manoela Sawitzki apresenta aos leitores um olhar sobre o amor fadado a uma eterna espera sob a perspectiva feminina. A protagonista é Júlia Capovilla, que conduziu sua vida para o decisivo momento em que reencontraria Leon, por quem se apaixonara ainda menina. Quando o destino finalmente os reúne, ela descobre que ele está prestes a se casar com outra e se dá conta de que a única forma de mantê-lo em sua vida é tornar-se sua amante. A partir de então, os únicos momentos de alegria na existência de Júlia acontecem na cama, a cada crepúsculo, na suíte Dama da Noite.
O livro surgiu de uma vontade de entender melhor a espera amorosa, segundo a autora. “Fala-se muito sobre o amor, como começa e acaba, mas aquilo que o precede, a espera, o hiato entre o desejo e a realização pode ser uma coisa brutal.” Inspirada nas heroínas românticas e trágicas, como Madame Bovary, Julieta e Ofélia, Manoela construiu uma personagem movida pela paixão, mas que consegue ao Presa aos laços de uma mãe ausente, um pai doente, uma tia cuidadosa, um amante omnipresente mas inacessível, Júlia é uma personificação da espera, da sensação de incompletude. Uma história que mistura confissão e vivência, redemoinho e salvação.
“Manoela Sawitzki inscreve, na literatura contemporânea brasileira, um poderoso retrato das querenças, relações e contradições humanas, partindo do olho de um oculto furacão chamado Júlia Capovilla.”
– Ondjaki
“Há livros que nos fazem lembrar que muito do melhor da literatura em língua portuguesa se faz no Brasil. (…) Ninguém sai desse livro da mesma forma que entrou.”
– José Riço Direitinho, Revista Ler – Portugal
“Depois da leitura deste livro, Júlia Capovilla é um nome que nunca mais se esquece. […] É uma daquelas raras obras em que uma personagem ganha vida para lá das páginas, fruto não só do talento estilístico da própria autora – que constrói o romance como uma sucessão de analepses e prolepses e vai revelando novos factos tanto quanto vai escondendo com mão firme – mas também do universo absolutamente arrebatador que constitui a própria personagem.[…] Suíte Dama da Noite [..] é editado em Portugal pela Cotovia na colecção Sabiá, dedicada à literatura brasileira contemporânea e que já publicou nomes como Bernardo Carvalho, Raduan Nassar, Adélia Prado, Tatiana Salem Levy e André Sant’Anna. Tal como outros desses livros, o romance da gaúcha […] é mais uma prova de que há uma nova ficção a vir do Brasil que é quase boa de mais para ser verdade. Mas é mesmo, não é mentira.”
– Ana Dias Ferreira – Time Out – Lisboa
“Sempre corajoso, Mário de Andrade admite em seu célebre “Prefácio Interessantíssimo”, que primeiro escreve “sem pensar”, guiado por o que chama “impulsão lírica”. E só depois, com o texto escrito, se permite experimentar os pensamentos, “não só para corrigir, como para justificar o que escrevi”. Em pleno século da técnica, Mario faz uma serene defesa do impulso. […] Quantos escritores de hoje teriam coragem de sustentar a posição de Mário? A pergunta rege minha leitura de Suíte Dama da Noite, novo romance de Manoela Sawitzki.” […] Uma escrita em estado de espera – como se não passasse de exercício e a literatura viesse só depois. A literatura não vem depois. Ela é o próprio exercício.”
– José Castello – em Caderno Prosa & Verso – O Globo 19/09/2009
“Para realmente começar a conhecer essa mulher inventada por Manoela Sawitzki é necessário ler duas vezes, reler ainda mais uma terceira vez a longa narrativa, e somente depois dessas experiências sensoriais é que o livro começa a se revelar como é: uma obra-prima.[…] Manoela Sawitzki não entrega o jogo rapidamente, ela dribla, enfeitiça e encanta o leitor. […] Suíte Dama da Noite é um romance que tende a perturbar o leitor e, se isso não acontecer, no mínimo viabiliza uma incrível aventura estética que é a experiência de ler essa prosa solta, incomum, que revela uma dicção de uma autora que já inscreve o seu nome na malha da literatura brasileira contemporânea.”
– Marcio Renato dos Santos – Jornal Rascunho
“Está aqui uma voz bem cheia, bem fina. O final é fortíssimo e desalmado. Dói imenso. Tão bem feito! Não vou esquecer a Júlia Capovilla. Ela fica na alma como se fosse gente.”
– Lídia Jorge, escritora portuguesa
“Uma literatura elegante, de altíssimo nível. Um dos melhores livros de 2009.”
– João Paulo Cuenca
“Manoela Sawitzki constrói personagens de uma forma rara nos dias de hoje; dá-lhes tanta vida que eles extrapolam o livro e vêm habitar nosso mundo real.”
– Tatiana Salem Levy, escritora
“Um romance elegante, original, verdadeiro.” Martha Medeiros “Uma percepção da alma feminina maravilhosa, sutil, delicada.”
– Marcelo Gomes, diretor de Cinema, Aspirinas e Urubus